Transcrição de notícias (veja links abaixo):
SÃO PAULO – No primeiro dia da 28ª Bienal de São Paulo, um grupo de cerca de 40 pichadores invadiu na noite de ontem o pavilhão no Parque do Ibirapuera e pichou parte de seu segundo andar - propositalmente vazio nesta edição. Eles picharam as paredes com as frases: "Isso que é arte", "Abaixa a ditadura", "Fora Serra" (sic).
Os invasores também assinaram nas paredes nomes dos grupos envolvidos, como “Susto”, “4” e “Secretos”. Dos cerca de 40 pichadores, apenas uma jovem de 23 anos foi detida. Ela foi levada para o 36º DP, na Rua Tutóia. Houve tumulto no prédio.
A ação já estava prevista pela curadoria e organização do evento, que disseram anteriormente terem tomado providências para que a pichação não ocorresse no prédio. “Entramos pela porta. Normal. Conseguimos”, disse a menina detida que não quis se identificar. “É o protesto da arte secreta.”Segundo ela, vários grupos estavam envolvidos na invasão, uma continuidade das ações de protestos que ocorreram neste ano na Faculdade de Belas Artes e na Galeria Choque Cultural, lideradas por Rafael Guedes Augustaitiz, o PixoBomb.
Os demais pichadores saíram no meio do tumulto se misturando aos outros visitantes da mostra e quebrando vidros do prédio. Até que a Polícia Militar chegasse, os visitantes tiveram de permanecer dentro do prédio e ninguém pôde entrar.A Bienal lamentou e repudiou o ato de vandalismo e ainda não se sabe se o piso será pintado ou não. Apesar do incidente, o dia foi de intensa movimentação, com exposição aberta desde às 10 horas. À noite, foi realizado o show da banda Fischerspooner, com meia hora de atraso por conta do incidente.
As informações são do Jornal da Tarde. In: http://ultimosegundo.ig.com.br/cultura/2008/10/27/grupo_de_pichadores_ataca_predio_da_bienal_de_sp_2079656.html
e http://noticias.uol.com.br/ultnot/agencia/2008/10/27/ult4469u32403.jhtm
Abraços
Fernanda
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19 comentários:
Foi um ato de reação, na minha opinião. Nem vandalismo, nem arte. Talvez oportunismo. Mas, de qualquer forma, está confirmado que essa Bienal vai dar o que falar.
Depende...
Vamos esperar até os caras repintarem(ou não)o segundo andar.
Mas de qualquer maneira, valeu a performance rsrsrs
Valeu,
Daniel de Souza.
Desde sempre manifestações existem, mas tudo é arte ou performance só porque queria ser...?
O "abaixA (sic!) a ditadura" (uma das pixações na Bienal) remonta aos anos 60/70, fazia sentido na época, mas agora... vai virar "arte" porque foi pixado em um prédio que abriga uma mostra de arte?
Acaba se tornando um paradoxo: estão pixando DENTRO das instituições (Belas Artes, Choque Cultural, Bienal), logo, estão entrando e de alguma maneira se enquadrando neste mesmo sistema que criticam.
"Expõem" sua "obra" nas instituições, com a cobertura da mídia. Mas não são contra este sistema?
E aí?
Na possibilidade de um espaço vazio, haverá quem o ocupe. A insistência dos pixadores tornou-se cansativa numa cidade cheia de ocorrências e não causará espanto mesmo que no prédio da Bienal. Quantos vazios são deixados nas coisas públicas e nos patrimônios culturais? Desta vez o vazio teve um espaço medido em metros quadrados.
Reportagem do programa Metrópolis:
http://diversao.uol.com.br/ultnot/multi/2008/10/28/04023560E4A12326.jhtm?metropolis--pichacao-na-bienal-de-sao-paulo-04023560E4A12326
Conhecendo um pouco mais a fundo esse grupo, uma das questões (dos pixadores) é questionar o que é arte hoje e seus cânones.
Bom, acho que o vazio na 28a Bienal não intencionalmente nos diz a respeito do que é ou não considerado arte hoje, o esvaziamento do conteudo artístico e também sobre o que a arte é submetida ou mesmo (talvez principalmente) subordinada.
Lembrando também que "todo objeto de cultura é objeto de barbárie."
O grupo, independente de sua intenção, ao que me parece, completou a questão. Foram lá e fizeram sua arte no vazio da Bienal, dando ênfase a discussão corrente.
Um video do local, na hora do acontecimento (siiim, o babado na hora exata dele, coisas que a tecnologia proporciona):
http://www.youtube.com/watch?v=72Enm63yLCk
To querendo ver mais conceitos interagindo!!
Não achei oportunismo, mas achei oportuno. Já que a arte, aparentemente, não tem mais para onde correr, e o grafite já tem seu espaço ocupado e reafirmado no contexto artístico, agora é a vez dos pichadores. Por que não?
Grafiteiros x pixadores.
É uma questão: aparentemente grafiteiros são aceitos no circuito, e pela reação da Bienal (e segundo pesquisas 80% do público), pixadores não.
Qual o limite da "arte e o dito fazer artístico" ou até onde é permitida a entrada, permanência e consagração das linguagens?
Será que Duchamp saberia responder?
É bom lembrar que o sr. Augustaitiz não foi o primeiro a chegar:
http://www1.folha.uol.com.br/fsp/cotidian/ff2510200818.htm
Complemento aqui o comentário do Pedro, transcrevendo a reportagem (para aqueles que não conseguirem acesso ao link, pois é de acesso restrito)
"Antes da inauguração, Bienal sofre ataques de "coladores" de "stickers"
SARA UHELSKI DA FOLHA ONLINE
O grupoArac, que se define como "um grupo independente de "coladores" de "stickers" [adesivos]", passou quatro horas anteontem no segundo andar do pavilhão da Bienal -que, por decisão da curadoria, foi deixado vazio nesta edição da mostra- fazendo intervenções nas paredes e nos pilares.
Os adesivos foram agrupados em quatro ou cinco e colados em 15 pontos do andar. São caveiras, borboletas e dentaduras, entre outros desenhos, que ficarão camuflados -eles ficarão escondidos sob folhas brancas e tinta até a abertura da mostra, que acontece hoje para convidados e amanhã para o público.
A ação está registrada no blog Bien-Mal 2008, que mostra fotos do procedimento e adianta alguma das imagens coladas.
Em conversa com a Folha Online, o organizador da intervenção, que não quis se identificar, afirmou que não considera o ato uma forma de vandalismo. "Considero uma obra de arte, uma conseqüência à proposta dos curadores de manter o segundo andar vazio."
Em entrevista coletiva realizada anteontem, a Fundação Bienal de São Paulo disse ter preparado um esquema antivandalismo.
"Acho ainda que os responsáveis pela Bienal vão entender e deixar os adesivos onde eles estão", completou o organizador da intervenção. Ele afirma ainda que o fato de a Bienal ser um evento gratuito e sem barreiras na entrada a caracteriza como um espaço urbano, que deve receber também expressões de arte urbanas.
Para continuar com a intervenção e incentivar outras pessoas a irem até a Bienal colar seus "stickers", o grupoArac criou o "Manual para a Invasão da Bienal".
"Sticker"
O "sticker" é um tipo de intervenção urbana, como o grafite, que ganhou as ruas de São Paulo, especialmente a região da rua Augusta, há cerca de quatro anos.
Feito de papel adesivo ou comum, os "stickers" trazem desenhos de seus autores e estão espalhados por outras metrópoles."
Há uma pergunta na minha cabeça que não quer calar: a curadoria foi quem decidiu deixar o andar vazio, certo? Pelos motivos já citados, acharam que seria interessante deixar vazio. Fico me perguntando se a curadoria não estaria se confundindo com o artista!?! Será que se um artista oficialmente convidado para a mostra tivesse deixado o andar vazio, assinando sua obra, este ato não teria outra interpretação?
Se pichassem, estariam invadindo a obra, certo?
Mas sendo decisão da curadoria, fico me perguntando se a atitude é válida, se a decisão foi correta, enfim... o trabalho desses caras é fazer curadoria ou fazer arte?
bom, estive lá na sexta-feira e já tinham coberto as pichações. vou na linha da Mila. aproveitar da bienal para repudiar a falta de espaço para a arte no brasil é oportunismo, mas é oportuna a discussão, sim.
de qualquer forma, na minha humilde impressão, quando li a idéia da "planta aberta" fiz conexão direta a da "obra aberta". sendo assim, todas as possíveis interpretações sobre o ato ou "des-ato" são válidas pois nos fazem questionar, refletir e, quem sabe, reagir, não é?
Coloco aqui mais um texto (talvez fosse melhor colocar direto no blog), da aracy amaral, sobre a bienal. Acredito que possa acrescentar um pouco mais à discussão.
Esta Bienal... reflete a arte contemporânea?
Talvez a 28.ª edição seja espelho da debilidade da instituição e não da expressividade do circuito
Crítica Aracy Amaral
A gente entra; e de imediato se indaga, constrangida: a "isto" se viu reduzida a Bienal de São Paulo? Mas é bom que se saiba: a indigência presente na Bienal de várias maneiras e que vimos na noite de abertura não reflete a arte contemporânea. Ela é antes espelho da debilidade de uma instituição. Não há necessidade de fazer simpósios ou seminários sobre o assunto. Também entendemos que a Bienal não é festival de artes em geral. Em São Paulo, a oferta de espetáculos de dança, música e teatro é imensa o ano todo e teria sido desnecessário o que se despendeu ocupando o espaço com essas atividades.
Quando se viaja ao exterior e se vêem exposições marcantes de artistas em grandes museus como a Tate Modern, em Londres, ou em Viena, no Ludwig Museum, ou em Nova York no MoMA ou Whitney, só para citar alguns, damo-nos conta do que está se passando em arte contemporânea. Como ao visitar uma Documenta de Kassel, por exemplo.
Também as grandes feiras internacionais de arte nos passam uma imagem viva da efervescência do meio artístico, seja com as obras expostas, ou com seminários que realizam.
Se entre nós o problema foi falta de verba que caberia à presidência da Bienal providenciar, essa presidência está no lugar equivocado, pois essa é a sua competência. Se a escolha do curador foi tardia, a responsabilidade é da instituição e da curadoria que aceitou, assim como a proposta e suas limitações, pela simples necessidade de vê-la aprovada por falta de tempo para executar ou conceber outro projeto.
Até detalhes paralelos à "proposta" de Ivo Mesquita podem ser criticáveis. Como a apresentação de "documentos da Bienal", pois afinal, o Arquivo Wanda Svevo sempre esteve aberto a pesquisadores e não precisava ter sido deslocado para o terceiro andar nem facilitar o manuseio de catálogos raros por parte de qualquer visitante sob risco de perda ou vandalismo.
Tentemos falar claro. Esta Bienal parece antes preconceituosa - em sua preocupação em não mostrar artistas de outras tendências, mas apenas aqueles rigorosamente conceituais . Afinal, para citar apenas um jovem artista brasileiro e um do jet set, as imagens poderosas de um Henrique Oliveira acaso foram cogitadas? Um Damien Hirst, artista há 20 anos "estrela" no meio internacional, não seria interessante ter sido apresentado? A arte chinesa de hoje (e mesmo a coreana !), espanto em grandiloqüência, mas sem dúvida um fenômeno das artes visuais de nossos dias, e atual "darling" de museus e centros culturais de todo o mundo ocidental, por que não está presente? Na linha de "happenings", por que não pensar nos 40 anos depois do Grupo "actionista" de Viena, do qual fizeram parte Schwartzkogler e Gunther Brus, performáticos e violentos em suas manifestações e expressões ao vivo e em vídeo? O Ludwig Museum de Viena comemorou com grande exposição em junho-julho último essa documentação forte, embora os jovens de hoje raramente saibam que existiu e creio que pouco se comovessem ao ver esses documentos. A arte também envelhece. Mas, enfim, há tantas vertentes das artes visuais no mundo que a pálida 28ª Bienal pode passar ao visitante incauto a falsa impressão de que nada mais ocorre na área. Ou, que não há nada de outros tempos que bem valeria um gesto generoso por parte do "Conselhão" ou Comissão (?) da Bienal em aprovar, recomendar e levantar fundos para sua apresentação. Afinal, repetimos, fortunas não nos faltam em particular neste Estado. E temos em mente que presidir uma Bienal de São Paulo, ou candidatar-se a esse cargo, pressupõe minimamente séria responsabilidade.
Mas, ou se apresenta evento digno dessa tradição - Bienal de São Paulo - ou se reformula a existência ou freqüência do evento, como sugerimos há mais de 30 anos em simpósio latino-americano ocorrido aqui na Bienal mesmo para que ela se transforme em trienal ou quadrienal. Embora nossos profissionais, enquanto curadoria, sejam dignos de respeito, nada mal se em bienais alternadas tivéssemos curadores convidados de outros países, do mais elevado nível, para formar e diversificar as equipes que se formam no Parque do Ibirapuera.
Se não se pertence ao círculo fechado do "Conselhão", ou dos que decidem o que entra e o que não entra -, pois estamos distantes da organização por parte dos países convidados para que tragam seus artistas indicados pela curadoria da Bienal - nunca será veiculado quais os que foram convidados e não compareceram, por recusa, ou porque não houve orçamento possível.
No terceiro andar, sem dúvida o que mais chama a atenção são os móveis de marcenaria de mesas, cadeiras e bancos, que seriam muito bem-vindos em centros culturais sem recursos ou mesmo em creches de nossos bairros mais carentes, segundo observou Ana Maria Belluzzo.
Como descobrir uma proposta interessante da fértil Rivane Neuenschwander em meio às mesmices expostas, como as reproduções nas paredes ou papéis em vitrines que dificilmente despertam nossa atenção? Referimo-nos à monotonia da arte conceitual, a nos recordar das maçantes exposições de galerias dos anos 70 em Nova York ("como são chatas!", nos dizia Hélio Oiticica, só para citar um nome respeitado em nosso meio). Naquele tempo, só de penetrar numa dessas galerias, dar uma olhada às pranchas penduradas com palavrórios mil e cálculos matemáticos já era suficiente para nos expelir do recinto.
Não deixamos de notar o assédio curioso de uma obra por parte do público que ocasionou a única longa fila que vimos no dia da abertura - a possibilidade de penetrar no tobogã do belga Carsten Höller - para poder usufruir da adrenalina na queda vertiginosa. Na verdade, esse trabalho, de verdadeira interação com os visitantes, talvez seja o único da Bienal a alcançar a escala de bienais passadas em termos de expectativa: "Quero ir à Bienal para ver tal trabalho."
Allan McCollum, uma raridade igualmente, parece ter trazido, com seu envio, aquilo que eu consideraria um "trabalho para um espaço de Bienal".
Por isso me pergunto, espantada diante do que está exposto, como preparar visitas guiadas de escolares? Como explicar "artes visuais contemporâneas" a um público infantil ou adolescente nesta Bienal? Ou, como justificar a existência das Bienais?
Convenhamos: como ouvir tranqüilamente que é "genial" o piso geométrico de Dora Longo Bahia, que deve ter sido de difícil implantação, por certo, para seus auxiliares, com desenhos a nos lembrar azulejos hidráulicos magnificados, ou de inspiração islâmica?
Na verdade, ao ver a diminuta peça de Iran do Espírito Santo, parece que esta Bienal, salvo exceções, pelo teor das propostas, parece feita de presenças antes para a elite freqüentadora de galerias do que baseada numa concepção considerando o grande publico. O que significa isso?
Significa que num evento "bienal", "trienal", em particular num país como o Brasil, de extrema desigualdade social e educacional, os espaços, a cidade, as obras e os visitantes devem ser pensados em termos interativos, como alvo de motivação e não apenas de exibição.
Assim foi o propósito, a meu ver, que ocasionou a vinda da Guernica (em 1953-54), da sala Mondrian, da sala Picasso, da sala Van Gogh, do pop norte-americano já em meados dos anos 60, e de tantas outras salas especiais, como a dos artistas modernos e modernistas da Bienal da Antropofagia. Ou mesmo da Bienal da Grande Tela, sob a curadoria de Sheila Leirner, em 1985, ao trazer-nos a nova pintura dos anos 80. Claro que o Brasil mudou, e nossos museus e centros culturais idem. Assim, temos tido grandes exposições nos últimos 10-12 anos. Mas quem sabe os tempos agora ficarão mais magros e teremos que batalhar por novas oportunidades?
Mas, afinal, o que eu vi na abertura da Bienal? Muita "arte de processo", tendência típica dos anos 70, ou simulacros, como uma pseudoloja de rua reproduzida no interior da Bienal (Chaveiro, de Paul Ramirez Jonas), pseudográfica com impressão de jornais (Erick Beltrán), folhetos conceituais humorosos (ou não), e por vezes criativos, como sempre são distribuídos nas Bienais ao longo do tempo; entre vídeos modestamente dispostos, ao largo do circuito "nobre" do espaço, como alternativa para eventual outra visita do apreciador.
Melhor não mencionarmos a museografia, a organização do espaço desta Bienal. Nem há etiquetas dos autores dos trabalhos em suas proximidades. Talvez entendam os curadores que os folhetos com mapas impressos sejam suficientes... Não o são. Passa uma idéia de descaso para com o visitante, de falta de tempo para os "finalmente" do evento.
O que é o "espaço vazio" da Bienal? Prédios e habitações vazias em nossos tempos são um convite certo à "invasão". Se não ocorre "ocupação", vamos ocupá-los. Assim pensaram visitantes de um museu, cujo diretor, na década de 80, deixou o espaço vago para motivar a população, numa cidade no sul da França, a ocupá-lo com objetos e obras que traziam de casa. Mas acontece que hoje vivemos em tempos bem mais agressivos.
Colocar como alvo de admiração o espaço concebido por Niemeyer, e que usufruímos há mais de 50 anos, poderia ser projeto para uma Bienal de Arquitetura de São Paulo. Mas esta é a 28ª Bienal. Assim, não tem sentido, e mesmo a definição desse espaço pela curadoria parece-nos equivocada se não for de humor (?) dúbio (*). Assinala falta de idéia, de concepção, de tempo, de orçamento. Ou tudo junto. Se o desejado é a polêmica sobre a provocação, então o objetivo foi alcançado. Mas o "void", com certeza, é uma omissão. Nada tem de rebeldia. E se o curador da Bienal, Ivo Mesquita, aceitou os termos da presidência, as regras do jogo, quando aceitou, não se pode dizer apenas que "salvou" a Bienal por ter ela sido realizada em menos de um ano. Pode-se ser mais incisivo: dizer que ele "quebrou o galho" para a atual presidência. E certamente poderá até ser elaborado um catalogo bilíngüe pleno de textos sobre a filosofia da arte de nosso tempo.
Na verdade, há algo de cinismo murmurado, reconhecido e vivenciado no meio artístico contemporâneo. O conceitual é bem imaterial, mas aqueles que sobrevivem vendem, ou viajam a convite para expor suas criações. A própria crítica, as curadorias, a mídia, o sistema de galerias e museus, todos enfim contribuímos amplamente para esse fim, apesar do que se publica em vários países sobre esse fenômeno. Isso se deve ao fato de se escrever, em geral em literatura pouco acessível ou pedante, sobre obras sem nenhum ou parco valor, para um público reduzido que acredita erroneamente que quanto mais hermético mais elevado.
Mas é certo que a criação contemporânea é um instante de trânsito, entre o passado e o futuro, pois como prever qual será exatamente o tipo de expressão visual dentro em pouco com os avanços da nanotecnologia, da internet, do papel eletrônico ou da fotografia digital, que influenciarão várias formas de manifestação?
*No folheto distribuído ao público é definido esse espaço e sua concepção: "2.º andar: Planta Livre - Ao contrário das bienais anteriores, que transformaram todo o interior do pavilhão modernista em salas de exposição, desta vez o segundo andar está completamente aberto, revelando sua estrutura e oferecendo ao visitante uma experiência física da arquitetura do edifício. O termo ?planta livre? refere-se ao conceito criado por Le Corbusier, em 1926, para definir um dos cinco princípios da nova arquitetura."
Aracy Amaral é crítica e historiadora de arte
Nossa! Gostei da crítica da Aracy.
Não que eu não tenha achado legal o que vi. Achei algumas coisas bem interessantes, na minha ainda parca cultura artística.
:P
Mas o tempo todo me perguntei: bom, mas isso não é pouco para uma "BIENAL"? Será que não veria isso em galerias por aqui? Apreciar a arquitetura modernista do 2o andar, em pleno séc XXI, pós-"pós-modernismo"?
Saí de lá cheia de "heins" e feliz por ter aproveitado o escorrega.
O espaço vazio do qual todos estão falando é tão...moderno...
Não entendo de arte, mas tenho uma opinião a respeito do vazio: é um tremendo desperdício.
Existem tantos artistas por ai, não? A forma como estamos usando mídia digital, onde a colaboração e o remix de conteúdos oferece uma linguagem nova, contemporânea, a todos nós. Cadê?
E a questão ambiental? Como a preocupação com o meio ambiente alavanca ou restringe a manifestação artística? Quais materiais são utilizados agora? Qual é a "pegada de carbono" (carbon footprint) dos artistas?
Bem, espaço para discussão sempre existiu... mas resolveram colocar o nada, o vazio no lugar. E não me venha com o papo de: "admirar a beleza do parque de dentro da Bienal", pois isso é uma balela! O parque nunca precisou da Bienal para ser o que é. Aliás, o parque é bem maior que a Bienal, ainda mais agora que ela encolheu.
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